26 de jun. de 2015

Entre o agora e o sempre

Entre agora e o sempre é um lugar imutável. São as folhas que caem todo fim do verão. As coisas cíclicas mas também as quadradas porque com elas não há meio termo. Parecem faca amolada.

Um espaço infinito, ainda que acabe ao fim dos dias da vida, que habita um painel que montamos dentro da gente. Há lugar para isso? Espera um pouco, preciso pensar.

Irei juntar com as mãos apoiadas sobre a gratidão todas as pequenas coisas que formam um mundo, e estaremos então entre o agora e o sempre.

Ando por aquela rua com seus prédios cinzas e um intervalo de tempo, e então sinto-me entre o agora e o sempre. Acontece quando abro uma página e leio você inteirinho nela. A curva de uma letra que, se não sai bem feita, me faz refazer tudo de novo. São os detalhes que só eu sei que existem e nos vigiam. Pisquei meus olhos e o vi passar - ele, assim. Ele mesmo, de quem falo.

Entre agora e o sempre descansa o meu pensamento. Aconchega o meu lado humano e quente, minha risada para dentro pois peguei ela de uma menina com quem morei uma vez. Estou assim, pegando tudo dos outros porque alguns eu não quero que se vão.

Entre o agora e o sempre é onde vivo quando sou surpreendida pela lembrança boa e doce de você todinho do seu jeito. Quando não dou a mínima para o meu cabelo e ele brilha como um sol ainda que castanho. Quando sinto tanto frio que até me emociono de emoção e me abraço. Meus passos ora se distanciam ora se aproximam porque sei que o que não é agora é sempre.

Lhe dou tchau com as mãos rígidas mas preste atenção em meus lábios. Prometo que, se olho, vejo. Não sou muito de dar atenção ao que não me diz respeito, embora o mundo me concerna muito. Acho que vou ali tomar um banho de água fresca.

E não sei mais o que dizer porque nunca quero dizer muito, por isso uso as palavras. Palavras são tão bonitas e rebuscadas que até me escondo nelas. Sou sem ser. Mas quando quero me mostrar inteira fico calada e muda e deixo as pessoas lerem meu rosto - não que eu também queira, é  que nasci assim mesmo e isso eu não consigo mudar. Vou mesmo é me obedecendo.

Mas então volto como um cometa que passou em um céu que nem nunca existiu - eu que o inventei agora ao desenhá-lo em meu caderno - e pinto uma pintinha em seu rosto, porque preciso povoar o céu que muitos acreditam ser o paraíso. Ah! Se eles soubesse que o céu está logo aqui. Ha.

E enquanto isso vou-me mesmo é indo, pois vivo entre o agora e o sempre.

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