O meu silêncio não tem motivo.
Não falo porque não tenho nada a escrever.
Tudo o que escrevo foi vivido, e o viver não tem limite. O viver não dá-me tempo. O viver por si só basta. O que resta é o escrever: por isso, parece resto. Mas não é. Mas, agora, tem sido.
Meu silêncio não tem motivo: não tenho nada a dizer. O que falar sobre o que não foi dito?
O que dizer sobre o que está feito?
Meu silêncio não tem motivo, mas, quando lembro da causa, até susto eu tomo. Assustei. E que susto!
Todo dia me assusto. Aliás, todo dia, não. Todo dia eu me assustei. Todo dia eu me assustava. Mas, como diz a conjugação do verbo, isso foi no passado. Me acostumei com esse modo de girar da vida de novo. Mas ainda há resquício de inocência em mim: vira e mexe eu esqueço e, então, eu me assusto.
Meu silêncio não tem motivo, e é isso: é o susto.
Eu não tenho motivo nenhum porque, se há, não é meu.
Não escrevi essa história, quem a viveu não foi eu. Tudo saiu do seu jeito porque eu saí antes. Não teve eu nessa participação e por isso saiu assim. Estou sendo repetitiva? A história, desse jeito assim contada, desse modo assim vivida ... é sua. E não sou eu.
Meu silêncio não tem motivo: eu olho e vejo e me lembro e fico sem motivo. Não há porquê, não há para quê. Não há mais reação porque reagir é fazer alguma coisa. E, nesse caso, fazer é um não ato. Aceitar é agir. Aceito.
Meu silêncio não tem motivo. Mas não há motivo suficiente, não há motivo existente para me fazer falar. Por isso, não escrevo.
Não há motivo. Você não é motivo, você não é motivo suficiente, você não é motivo existente... porque, se você vive, eu não tenho nem conhecimento. Mas creio que você deva, sim, daí, existir.
Mas, meu querido: meu silêncio não tem motivo. Não há motivo algum. Nenhum, mesmo. És querido.
Eis que falo: meu silêncio não tem motivo.
29 de set. de 2018
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