Adeus, até sempre. Digo-lhe com os olhos para baixo. É que não ouso encarar os olhos seus - seus olhos foram feitos no primeiro dia da criação, seus olhos foram a coisa primeira a ser feita no mundo. Os olhos seus que os meus tanto olharam para ver se via.
Adeus, até sempre. Digo-lhe com um aperto no peito e mãos que lhe deixam ir. Eu sempre quis dizer-lhe adeus mas sempre tive medo. Mas guardá-lo comigo, aonde quer que eu vou, é ainda mais aterrorizante e às vezes corta a alma como se você fosse um dia frio em uma dessas esquinas da vida.
"Adeus, até sempre" parece dois lugares: um, aquele lugar que nunca existiu. Para onde irás e cairá no esquecimento. O lugar onde estão as coisas perdidas. O lugar em que apago a luz. O momento que nunca visito. Uma leve certeza que soa como dúvida.
O outro lugar é aquele de onde viestes e de onde nunca saíras. Para onde sempre irás. O lugar onde moram as coisas repentinas, verdadeiras e formadoras dos dias de primavera - eu nunca penso na primavera, eu sempre gosto mais do outono e do inverno, mas você é como flor que aflora, é como reflexo de raio de sol que bate nos jardins do mundo, é o que reluz dentro de mim e ilumina o caminho à frente. É o que me paralisou, mas o que também me guia - para pegar o outro caminho, para trilhar o caminho contrário, para me encontrar.
Adeus, até sempre, e parece que tudo nunca aconteceu. Adeus, até sempre, e parece que foi tudo logo ali e logo agora. Mas foi ontem, é hoje, será amanhã. É.
Adeus, até sempre: solto-lhe o meu sussurro de saudades, miro a janela para poder olhar para o nada. Tudo é desculpa para não lhe encarar: é que seus olhos foram feitos no primeiro dia da criação do mundo. Um dia eu olhei para eles e nunca mais quis parar de olhar. Meu deus, era tudo perfeição. Quem fizera aquilo? Quem carregara aquilo, era você? E você, o que via com eles, o que via com seus mais lindos olhos? Via-me diante de ti, a te olhar-te?
Adeus, até sempre. Vistes muito mais que eu de uma maneira clara porque meu jeito foi sempre complicar as coisas. Mas no mundo não há culpa: há alguns dias descobri que eu também fui feita em um desses primeiros dias da criação, quando o dono do mundo e fazedor de todas as coisas ainda não estava cansado e havia matéria prima de sobra.
Adeus, até sempre. Deixo-lhe ir, vou-me também - mas até sempre. Até sempre.
9 de jan. de 2017
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