Então aquilo era o sul. Era lugar nenhum. Era o sul de lugar nenhum.
Isso é o que pensava todas as vezes que arrumava a mala, que era mais uma mochila com pouca roupa, porque se salvava (do inglês, "save"; do português, se guardava?) e se permitia para pessoas especiais e em ocasiões especiais, que eram as ocasiões do dia a dia da sua vida.
Então aquilo era ao sul de lugar nenhum, pensara ela. E pensava assim todas as vezes até não querer pensar mais e não poder sentir mais porque queria mesmo apressar os passos que sempre a levariam na direção contrária - contrária a aquilo ali.
Então estava indo ao sul de lugar nenhum: de onde as pessoas vinham, onde esteve mas para onde nunca mais voltou ou existiu. Não era possível existir ali, porque, em seu mundo, existir implicava viver.
Ao sul de lugar nenhum as pessoas vestiam-se iguais, e pensavam iguais, e sequer pensavam. Falavam a mesma língua mas, no final, ninguém falava nada. Todos olhavam na mesma direção sem notarem a própria sombra. Mas então nasceu um dia um ovo ou uma galinha? - não importa a ordem, pois o que vale mesmo é o conhecimento e a indagação que isso gera - não ali, em lugar nenhum, obviamente.
Um dia eu nasci e ali estava: ao sul de lugar nenhum. E então era assim que chamava aquele lugar sombrio que um dia pintou a história mas que nunca habitou coração e, por isso, jamais seria considerado um lugar porque simplesmente não existia.
Se duvidas, pegue um mapa: tente achar esse "lugar nenhum" e verás, simplesmente, que não existe.
Avante, sigamos em frente.
3 de out. de 2016
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