30 de mar. de 2016

O som do coração

Me diz: se o coração falasse, o que ele iria dizer?

Se meu coração falasse, ele teria cheiro de quando sai do banho. Que é cheiro nenhum, mas cheiro da gente. Teria o tamanho de um prédio grandioso em desenho na folha, mas pequeno em altura porque tenho medo. Mudaria de cor, porque tudo depende de como estará o tempo quando as estações do ano, tão raras, se aproximassem. E eu o levaria apertado nas mãos.

O som do coração já foi tão estridente, o som do coração parece um sussurro perto de um mar. Assim, tão longe. Este ruído baixinho é tao presente que toma conta de um pensamento. Dá até para sentir. Me diz uma outra coisa: a gente sente é com o coração?

Se o som do coração falasse, ele sairia da minha boca em forma de letras. E elas seriam escritas caprichosamente no valor do tempo. Todo o detalhe de uma imensidão seria colocado em cada extremidade e, no fim, ninguém entenderia nada porque precisa-se apenas de ver. Ver. Ver é sentir com os olhos, não é?

Se o som do meu coração gritasse, o eco seria longe, para cima, para o norte, mais ao sul. Ficaria mudo. Ele nunca poderia escolher entre leste ou oeste, porque está sempre na metade. Olha, lá vem o soco no estômago. Machuca, então segura firme porque o dia já vem.

Se o som do coração dissesse qualquer coisa eu o proibiria de dizer porque ele entregaria quem sou eu. Por isso, estamos sempre atentos. Olha só os meus olhos - já viu?

Eu acho que o coração da gente quer sempre falar o que quer que a gente seja. E este frase tem duplo sentido. O mundo nunca teve um significado só. E eu vivo em uma língua estrangeira. E sou eu mesma neste momento, mas eu corri há pouco de mim mesma. Isso soa tão repetitivo mas são apenas as palavras, já que estou em falta delas.

Olho nos olhos, mas vejo o meu coração.

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