Atrás do pensamento é como um lugar guardado. Um local que a gente montou e foi morar nele. Um local que sempre existiu sem que a gente se desse conta. Um lugar que guarda um pouquinho da alma da gente enquanto acontece o dia.
Atrás do pensamento é como o meu copo de leite. É um livro em capa de veludo verde escuro a la Wilde, cheio de rimas bonitas que me fazem revirar os olhos. É como o caminho que sempre pego, mas é também o caminho novo que me rejuvenesce o olhar.
Atrás do pensamento é aquele que nunca foi. É aquele que ficou aqui. Sou eu sendo a menina que fui e que sempre hei de ser, porque me transformei em eu mesma - a gente sempre acaba se esbarrando com a gente.
É quando fecho os olhos e espero para ver o que é que vem. Quando recosto a cabeça em um canto e me descanso dos pensamentos, que fogem até chegarem onde você está. É uma onda do mar que vai mas voltou. Volta sempre, toca sinos, estende-se em minha cama e tem preguiça em sair.
Atrás do pensamento mora a pessoa de quem fui mais próxima na vida, as aventuras que vivemos juntas e um caderno que escrevi cheio de significados, pois significava muito. As pessoas crescem e vão embora da gente, mas se deixam ficar. A distância física nunca será maior do que outras distâncias, e isso é um alívio frio e azul anil, mas funciona para o dia de hoje. Só por hoje, só por hoje...
Quando eu contar até três é porque já contei até cinco e já esperei passar. Eu perdi a conta dos números, eu nem olho mais as horas no relógio, eu estou sentada observando o momento agora mesmo.
Atrás do pensamento está eu e está você. Está tudo o que é junto, e muito, e leve, e sensível como uma louça antiga, e fugaz (eu nem sei o que é isto, mas esta palavra me veio agora e pediu para eu a escrever), e vivaz - porque rima -, e com gratidão e precisão e me embaralho toda em me perder nesta estratagema. Céus, quando é que eu vou parar com isso, com esta coisa de brincar com as as coisas escritas? Estou ficando gente grande e preciso aprender a usar as palavras - digo, desaprender. Vou ter que montar azulejos bem escritos, e o mais difícil de tudo: que façam sentido no final. Para isso tenho olhado muito para as fotos de Woolf e de Plath que tenho em minha parede, imaginando que só de olhar para uma coisa dessas a vida faria sentido e eu seria invadida por palavras bonitas, complacentes e cheias de sentido. Continuo olhando.
No momento, preciso pegar um trem e tecer o caminho. Preciso ficar muito tempo acordada e pouco tempo dormindo, e nem tempo para vagar e me distrair do mundo eu tenho. Mas a gente embarca e sobe a escada e se dá conta de que trata-se apenas de mais um vagão.
E, enquanto isso, espirro um jato de perfume em mim, pois o gosto do cheiro me inspira, e eu seguro a minha própria mão, que é o que tenho, e vou seguindo, sabendo que, no fundo e no raso e em tudo o que sou, mora o que está atrás do pensamento.
26 de out. de 2015
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