5 de jan. de 2015

Que horas são aí?

 Me diz que horas são por meio dos seus olhos. Me diz que assim vou olhar o ponteiro de ponta a cabeça e veremos os mesmos pontos minúsculos de poeira cósmica.

Diga-me que horas são neste local do mundo, assim tão distante de mim mas ao mesmo tempo sempre tão ao meu lado! Quase dentro de mim, fazendo-me quem sou.

Aqui há quatro cantos nas paredes, porque os cômodos tendem a ser quadrados. E o mundo já não é mais uma bola, pois esta ficando quadrado também. E as pessoas, e ate os cheiros das flores perfumosas.

As horas de todos os locais do mundo são a mesma, ainda que em horários diferentes. E assim também será o horário do fim do mundo, das alegrias e tristezas, ainda que este dia nunca chegue e exista apenas em livro.

A gente vai tomando socos da vida, mas nem é da vida não, e vai colecionando dores e um dia se da conta de parar para perguntar que horas são.

Há hora para tudo e a hora há de chegar. E neste momento os verbos do latim tão chatos irão se destacar da folha e serão apagados pelo sopro da memória. E neste momento será o mesmo momento para todo mundo.

E quando as horas passarem depressa porque houve muita felicidade envolvida, em outro local do mundo as horas passam devagar e doloridas, respingando. Tira-se um quadro da parece porque há tempo e leva ternura. Basta saber notar.

Me diz que horas são e me sacode, abra meus olhos que estão quase fechando, respira perto de mim, toma folego e me impulsiona, sussurra os segundos de vida que ainda restam no planeta - o mesmo para todos nos, quem diria - e não esquece de parar o tempo. Porque sim, perde-se tempo, o tempo é perdido.

Que horas são aí para você que, embora tão similar, é-me tão diferente (acho que acabei de inventar esta conjugação verbal, mas tudo vale a pena?). Que horas são os momentos que formam seus dias, e completam os segundos tao curtos e infinitos que, juntos, formam um vida toda com um fim ao final?

Diga-me as horas que eu te direi os momentos. Dá-me a mão neste mundo, eu que navego distante do sol porque prefiro o inverno. E sei que perdi os pontos cardeais de um momento que levou a todas as perdições da história.

Vem-se o vento, mas não antes de eu lhe perguntar: que horas são aí? A mesma que a minha?

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