O medo devora a alma, "Angst Essen Seele Auf" - assim, desse jeito.
O medo devora a alma, mas fala-se de "alma" bem baixinho que é para não despertar os tiranos.
A invasão contra os bárbaros salvou o mundo dividindo-o em dois: eles, e nós. E, claro, quem não está em lugar nenhum, como eu. Oh, como somos gratos, nós do mundo inteiro que no futuro seremos apenas história, a vocês, povos civilizados constituintes das causas tão nobres.
Quem são os bárbaros?
A balança do poder moveu-se com o ponteiro do relógio, sacudiu conforme a voz da multidão, cortou o dedo em uma faca. Tampa-se os olhos e os ouvidos. Enquanto isso, leva-se a vida como um dia comum.
O medo devora a alma porque nunca se sabe se serão capazes de fazer o que fizeram no passado. Será que hoje o mundo mudou? Será que hoje as pessoas mudaram? Será que uma geração pode mudar mesmo, assim tão rápido?!? Enquanto isso, o medo devora a alma e vivi-se um dia de cada vez enquanto tenta-se chegar a padaria. Vergonha nacional. Internacional. Do mundo inteiro. Mas virou apenas uma página da historia - será que eles estudam isto - a vergonha - na escola?
O medo devora a alma de um senhor das costas curvadas, roupas em tons bege, e uma sacola na mão. Ele reside ao fim da rua, mas eu diria que é tudo a mesma coisa. Ele é jogado para a esquina, levado cada vez mais para fora, até formar a periferia, que ele chama de casa.
O medo devora a alma porque as pessoas são intolerantes. Porque eu não quero ouvir falar de deus e não pode-se mais usar a caneta. O medo devora a alma porque não há mais câmaras de gás e o trabalho não liberta. Seremos todos comunistas em um bairro divino onde comeremos maçãs sentados em um muro a observar o outro morrer. O outro, não eu. Nunca nós mesmos.
O medo devora a alma e vira filme de cinema. Vira-se estrela de cinema. Vira-se ícone. Ensina-se mas nunca se sabe se foi aprendido.
Prometo que nunca haveria reparado em como o medo devora a alma se não fosse minha inteligente e sensata irmã, que leu e me apontou a ironia - tanta ironia em um título tão simples, sincero e profundo. E, claro, escrito de forma "errada" - "Angst Essen Seele Auf".
Ah, o medo devora tanto a alma! Teme-se a terra branca, escreve-se um título errado mantendo o erro linguístico com carinho, pensa-se, vive-se, trabalha-se e sobrevivendo iremos - aqueles que ficarem e não forem.
7 de jan. de 2015
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