1 de abr. de 2014

Entardecer

O entardecer me traz a lembrança de muitas coisas. Ele traz consigo a menina que fui eu. Ele sopra o vento com cheiro específico, pinta o fundo do céu, no fim da tarde, das cores doloridas.

O entardecer vem como um sopro doce. Chega de mansinho e vai tomando conta de quem sou eu. Cuida bem de mim. Mas, então, me da um soco no estômago.

O entardecer trouxe consigo minhas melhores horas, aquelas que nunca contei porque jamais conseguiria quantificar tamanha alegria. Ele traz consigo rastros de quadros em uma parede no fim do corredor, onde, logo mais, ficaria um quarto repleto de lembranças, almofadas, cheiros, desejos e beijos. E outro quarto logo a frente, nunca usado - apenas uma vez. Eu queria testá-lo, recorda-se?

O entardecer é frio. Ele é também escuro. Pesado. Profundo. Misterioso. Cheio de pensamentos que possuem significados. O entardecer, eu carrego comigo na manga da blusa. 

O entardecer me conta histórias vividas. Vividas em seu máximo. Vividas com o mais profundo amor. E, por isso e outras coisas mais, o entardecer, vez ou outra, dói. O entardecer grita comigo. Enxuga uma lágrima transparente que cai dos meus olhos escuros. Bagunça meus cabelos com o vento que traz no cair no dia. Tenta me levar para longe, como seu eu fosse leve. Prende-me ao presente. Soa como o futuro. Leva e traz de volta o passado.

O entardecer é meu amigo. Traz consigo o maior amor que eu já senti na vida. Faz doer minha barriga. E doem também as minhas mãos, os meus olhos, as minhas bochechas, o meu sorriso, o meu olhar, o meu falar e, principalmente, o meu coração.

O entardecer termina no fim do dia. Mas vem um novo amanhecer e, em seu decorrer, volta aqui o entardecer em minha vida.

Nenhum comentário: