12 de set. de 2016

Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres

Hoje, como em alguns dias, me pego pensando: era uma aprendizagem ou um livro de prazeres?

O rosto desenhado como pela mão de um artista, o cabelo que caía de lado mas não o impedia de ler o livro, a mão que segurou a minha, as pernas moldadas pelo andar de uma bicicleta, os olhos que transpareciam seu também lindo lado de dentro, as marcas pequenas sempre visíveis espalhadas por todo o corpo e, então, o sorriso: seria aquilo tudo uma aprendizagem? Porque mais parecia um livro de prazeres!

E tudo o que foi feito e dito, e não feito e calado, e acontecido e vivido, e criado e postergado. Era tudo uma aprendizagem que um dia eu aprenderia, mas, naquele momento, soava tanto como um livro de prazeres!

Uma mão leve mas pesada a me levar pelos caminhos que iria, uma voz que parecia vir lá de um outro lado do mundo, um sotaque carregado que todo mundo percebia mas eu simplesmente achava lindo. Meu coração se derretia e eu só pensava que aquilo era o livro dos prazeres: há tanto prazer em ler você, que vou até te chamar de "meu livro"!

Tudo na vida é uma aprendizagem ou um livro dos prazeres. Hoje, sei que a minha aprendizagem foi também o meu maior prazer, como o ápice do viver. Algo intransponível que tento contar até hoje para quem me sou - eu, que mudei mas ainda mantenho a minha essência.

Tudo que passa na vida a gente olha e pergunta: é uma aprendizagem? Ou é um livro dos prazeres?

Mas você, ah você, você foi a mais prazerosa aprendizagem que me apareceu na vida, e até hoje escrevo lições no meu caderno.

E, então: você - uma aprendizagem, ou o livros dos prazeres? ;)


8 de set. de 2016

The Munich Mannequins

Perfection is terrible, it cannot have children
Cold as snow breath, it tamps the womb

[...]

Unloosing their moons, month after month, to no purpose.
The blood flood is the flood of love,

The absolute sacrifice.
It mean: no more idols but me,

Me and You.
So, in their sulfur loveliness, in their smiles

The mannequins lean tonight
In Munich, morgue between Paris and Rome,

[...]
[...]

(by Sylvia Plath)

Those eyes I noticed last Saturday, I had actually seen them two years ago. I had stared when they were not seeing, only looking - those most beautiful eyes, so bright.

We'd just stare, and that was two years ago. And we'd only talk to our common friend, and that was all.

As I look at his eyes, my eyes go through some old pics and I feel nothing - cold as snow breath I am. And I look at another cold snow breath, much whiter than me, but you wouldn't say so - but no. Oh, that's his Aryan soul - but no!

Those bright clear eyes showed me the way to the Munich mannequins as I looked through my old pics. They are nothing but mannequins. Them, the Munich mannequins...

Danke, obrigada, thank you, and, most of all, Merci.

6 de set. de 2016

Condição

Qual a condição?

"Eu sou a condição", pensei.

...

Muitas pessoas acham que amor de pai e mãe é incondicional, mas enganam-se: ama-se os filhos porque, estes, como tais, estão na condição. Na condição de filhos.

E se não fossem seus filhos, amaria-os com amor? Sem condições? Amor incondicional?

...

Na rua da vida passou uma placa escrita. Fitei-a com os olhos e li. A lição eu já sabia.

Qual a condição para ser você? É que quando você nasceu depositaram em ti tudo o que não haviam sido e não tiveram. E você se pergunta: mas se é apenas sendo. Então, vá ser e assim será. E colocou-se aqui o ponto final.

A condição da vida é não estar contida.

Em qual condição você poderia ser você? Em qual condição eu me seria eu? E como ser-me toda minha? Eu, que nasci na condição de filha, pergunto-me ao olhar minha imagem, que também sou eu, refletida no espelho. Há de se olhar para dentro de si, diriam. Mas é que não vejo nada além de mim. Então, tire-se do seu caminho. Mas não se deixe ser abraçada pelos braços do polvo de uma condição. Digo isso porque hoje li Medusa, de Sylvia Plath, e lembrei de Aurelia, a mãe. Antes, havia lido Daddy e lembrado de Otto, o pai. Mas não apenas dele: ach, du - You.

...

Em qual condição eu estaria? Ser eu mesma já não seria condição? É que, se sou eu, sou filha. Mas, não: deve-se ser plateia, ouvidos, uma mulher sem cérebro, um manequim sem coração, eleitorado, governanta, aplausos, microfone, assinatura, concordância dos tempos verbais, gratidão, um lugar ao lado, cinco minutos no relógio, cinco reais a hora, exatidão.

...

"Que o amor do meu pai é condicional, a mais pequena desilusão e perde-se". (Ana de Amsterdam)