Vou chamar isto de o instante zero em que adormeço.
Porque este é exatamente o momento em que deixo de ser eu e passo a ser eu mesma. Porque somos o que sempre nos será permitido ser.
Este é o instante em que adormece pois coloco meu caderno de lado. Fecho a folha em branco e encaro minhas canetas coloridas como se fossem apenas tons de preto. Encaro-as tão fortemente como se eu fosse um pássaro predador. Mas estou apenas sendo eu mesma ao deixar de ser.
No instante em que adormeço desperto todos os meus dedos e meus sentidos interiores e os arrepios e os sussurros ao ouvido, e apago a luz. E espero os segundo a passar, contando-os como se fossem apenas barulho de chuva.
Ultimamente não tenho sequer escutado música, que é para eu me dessensibilizar. E se você acha que quando sou sensível sou fraquinha, engano seu: é nesta hora que preciso ser mais forte, e eu já me cansei há tanto tempo.
O instante em que adormeço chega sempre próximo aos meus pés, e eu o deixo tomar conta de mim. Deito em minha cama com um livro na mão, pois esta é a hora de se menos pensar e apenas absorver. Enquanto leio, não faco nada, apenas aprendo. E só aprender sem precisar viver soa-me como uma cantiga antiga destas em que vejo os tons musicais nas cores azul.
Neste instante, nada tenho escrito e nada estou fazendo sentido, porque o sentido quem faz sou eu. Prefiro ir deixar existindo e esperar pelo momento em que adormeço, que pode ser doce como o meu cheiro esta noite.
31 de ago. de 2015
2 de ago. de 2015
Abraços partidos
Aquele adeus que não nos demos, o afrouxar das mãos, meus olhos escuros marejados e o vento gelado do sul batendo em meus cabelos sem cessar.
Eu era apenas uma menina. Eu era apenas eu. Mas eu era mais do que isso.
Abraços que nunca demos, abraços divididos ao meio, abraços que se encontram em si e se tornam casa. Tenho os braços finos e bravos, mas eles não são invencíveis.
Um dia um inseto de luz saiu voando de um mato adentro. Era um monte de flor, mas eu chamo tudo de mato porque estou insensível. E ele olhou nos meus olhos a me encarar, como se a vida fosse um desafio.
Era uma vez uma menina que era eu, em frente ao antigo prédio, a atravessar a rua para o outro lado - o lado da livraria - e então vi o inseto de luz. Eu nunca soube se aquele inseto de luz tinha a luz como essência dele, isto é, como se já tivesse nascido assim como obra do acaso, ou se a luz era só um meio para o dia em que se esbarrou comigo. Eu nunca soube.
Daquele dia em diante, eu saberia, muitos anos depois, que as horas são contadas, na verdade, ao contrário. E que todo ganho é lucro. E que quando se perde se ganhou também. E que os tijolos de uma casa verde podem construir minha memória, e eu assinei meu nome em um caderno em um lugar que eu fui. Mas eu não sei rezar.
E estou tranquila, pois acordei de um sono no qual vivi um sonho que me deixou muito chorona. Tem sonho que vem e dá um soco no estômago da gente, porque ele é aquilo que a gente comeu mas ainda não mastigou. Um dia eu acho que você ainda não me disse adeus - digo, assim, adeus propriamente, sabe?
Meus braços são finos, mas são fortes, mas eu não os sustento e eles, por vezes, não sustentam a mim. Me sinto como passando em frente aos edifícios sérvios - oh, é então assim que a gente se sente quando não dá adeus e quando sente que ficou meio inacabado e quando há um monte de coisa que a gente comprou e juntou mas nunca presenteou?
Eu acho que a coisa mais educada que eu posso oferecer é dar bom dia e dar adeus. Isso eu dou todo dia até para quem eu não conheço, porque eu acho educado. Mas é só um bom dia e é só um adeus, porque não estou ali para ter uma conversa profunda com desconhecidos, mas I acknowledge your existence. Eu acho tão difícil achar as palavras na língua da gente.
Estou dando estas voltas todas porque, na verdade, eu nem queria falar mais. Eu estou só tirando esta coisa aqui de dentro de mim. Eu, que acordei há pouco de um sonho, e que senti necessidade de falar - digo, escrever. Eu, que tenho os braços finos e fortes, e dou bom dia e digo adeus. E você, faz o que, meu querido?
Uma vez eu comprei um (e mais de um) presente para uma pessoa e esta pessoa nunca os recebeu. Eu os guardei na caixa e achei aquilo uma tamanha aspereza. Mas eu sou eu, e você é você, e nem todos dão bom dia e muito menos dizem adeus.
Também nunca recebi um livro e, enquanto isso, vou caminhando o caminho e pensando que cada local do mundo tem suas pessoas e seus costumes e, quem sabe, sua aspereza. Existe uma palavra assim, tão rude, para traduzir o que estou querendo dizer?
Eu era apenas uma menina. Eu era apenas eu. Mas eu era mais do que isso.
Abraços que nunca demos, abraços divididos ao meio, abraços que se encontram em si e se tornam casa. Tenho os braços finos e bravos, mas eles não são invencíveis.
Um dia um inseto de luz saiu voando de um mato adentro. Era um monte de flor, mas eu chamo tudo de mato porque estou insensível. E ele olhou nos meus olhos a me encarar, como se a vida fosse um desafio.
Era uma vez uma menina que era eu, em frente ao antigo prédio, a atravessar a rua para o outro lado - o lado da livraria - e então vi o inseto de luz. Eu nunca soube se aquele inseto de luz tinha a luz como essência dele, isto é, como se já tivesse nascido assim como obra do acaso, ou se a luz era só um meio para o dia em que se esbarrou comigo. Eu nunca soube.
Daquele dia em diante, eu saberia, muitos anos depois, que as horas são contadas, na verdade, ao contrário. E que todo ganho é lucro. E que quando se perde se ganhou também. E que os tijolos de uma casa verde podem construir minha memória, e eu assinei meu nome em um caderno em um lugar que eu fui. Mas eu não sei rezar.
E estou tranquila, pois acordei de um sono no qual vivi um sonho que me deixou muito chorona. Tem sonho que vem e dá um soco no estômago da gente, porque ele é aquilo que a gente comeu mas ainda não mastigou. Um dia eu acho que você ainda não me disse adeus - digo, assim, adeus propriamente, sabe?
Meus braços são finos, mas são fortes, mas eu não os sustento e eles, por vezes, não sustentam a mim. Me sinto como passando em frente aos edifícios sérvios - oh, é então assim que a gente se sente quando não dá adeus e quando sente que ficou meio inacabado e quando há um monte de coisa que a gente comprou e juntou mas nunca presenteou?
Eu acho que a coisa mais educada que eu posso oferecer é dar bom dia e dar adeus. Isso eu dou todo dia até para quem eu não conheço, porque eu acho educado. Mas é só um bom dia e é só um adeus, porque não estou ali para ter uma conversa profunda com desconhecidos, mas I acknowledge your existence. Eu acho tão difícil achar as palavras na língua da gente.
Estou dando estas voltas todas porque, na verdade, eu nem queria falar mais. Eu estou só tirando esta coisa aqui de dentro de mim. Eu, que acordei há pouco de um sonho, e que senti necessidade de falar - digo, escrever. Eu, que tenho os braços finos e fortes, e dou bom dia e digo adeus. E você, faz o que, meu querido?
Uma vez eu comprei um (e mais de um) presente para uma pessoa e esta pessoa nunca os recebeu. Eu os guardei na caixa e achei aquilo uma tamanha aspereza. Mas eu sou eu, e você é você, e nem todos dão bom dia e muito menos dizem adeus.
Também nunca recebi um livro e, enquanto isso, vou caminhando o caminho e pensando que cada local do mundo tem suas pessoas e seus costumes e, quem sabe, sua aspereza. Existe uma palavra assim, tão rude, para traduzir o que estou querendo dizer?
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